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Este é o 23º artigo de 46 posts da série Entre Homens e Lobos.

Dareon ia saindo da estalagem quando apalpou o bolso e lembrou-se dos papeis que precisava entregar para Lorna. Tentou alisá-los sem sucesso, e depois de alguns minutos parecia que havia piorado a situação. Decidiu entregá-los como estavam.

– Obrigada – Lorna recebeu as páginas desgastadas e olhou-as, desanimada. – Acho que vai levar algum tempo, mas eu vou tentar descobrir alguma coisa a partir daqui…

Por educação, Dareon assentiu e desejou-lhe boa sorte, mas duvidava que de fato pudessem existir quaisquer resquícios do passado naqueles restos molhados de papel. Resignado, então, apressou-se para deixar o Vale Tormenta em busca da Floresta Negra – que, mais tarde, descobriu fazer jus ao nome que levava.

A Aranha Rygna era um monstro, no sentido mais puro da palavra, e deu mais trabalho do que Dareon esperava. A seu favor, ela possuía oito enormes pernas, presas afiadíssimas e uma região hostil, escura e coberta de teias e armadilhas para aprisionar seus inimigos. Talvez tivesse algum veneno mortal também, mas Dareon resolveu que seria melhor não tentar se certificar – até porque a lista já lhe era extremamente desfavorável como estava.

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A despeito de todas as estimativas desfavoráveis, Dareon conseguiu não se deixar prender pelas teias gigantescas e, com um golpe que pareceu elaborado – mas foi de sorte –, cravou as duas adagas ao mesmo tempo na barriga da matriarca da prole, no momento em que ela o havia deixado sem saída, preso sob seu peso e impedido de se mover pelo aperto de suas pernas. Ao final de alguns minutos angustiantes, Dareon foi finalmente solto e correu para longe do covil de Rygna, deixando-a tombada de barriga para cima sobre o chão úmido coberto por suas próprias teias.

De fato, quando retornou ao Vale Tormenta, foi Gwen quem o recebeu, aliviada. A noite já havia caído, e Dareon podia imaginar que ela devia estar apreensiva por horas.

– Vocês deviam ir comigo algum dia desses para me ver lutar – Dareon falou. – Sabem, para testemunhar meus feitos e contar para as futuras gerações…

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Gwen Armstead revirou os olhos enquanto Lorna, sentada à mesa em um canto reservado, riu baixinho.

– Bom trabalho, Dareon – disse Gwen. – Mais uma vez.

– Alguma novidade?

– Ouvimos rumores de que é possível que haja mais sobreviventes nas montanhas. Agora vou enviar alguns batedores até lá.

Dareon assentiu enquanto puxava uma cadeira e, ao largar-se nela, Gwen se compadeceu e apontou para cima.

– Vá descansar lá em cima – disse ela. – Não há nada que possamos fazer por enquanto.

– Mas se…

– … Se alguma coisa acontecer, a primeira coisa que faremos será chamá-lo – Lorna garantiu de longe.

De fato, estava verdadeiramente exausto e sequer ousou discutir. Sentia-se tão cansado que foi como se seu corpo tivesse ganhado vontade própria e o carregado para um dos quartos. Quase sem perceber o que fazia, Dareon vestiu um colete limpo e jogou-se sobre a cama macia, para mergulhar em um sono pesado e agitado que acabou por deixá-lo ainda mais abatido.

Foi acordado depois do que lhe pareciam minutos, com a mão de Lorna Crowley chacoalhando-o com cuidado. Rosnou alto antes de abrir os olhos e a moça, que o cutucava incansavelmente ao lado da cama, deu um pulo assustado que a levou para fora do quarto. Dareon aguardou alguns instantes até que Lorna esticou o pescoço para dentro novamente, protegendo-se com a porta de madeira.

– O que é? – quis saber Dareon. Olhou para fora de relance e percebeu que estava quase amanhecendo; havia dormido a noite toda. – Você realmente tentou acordar um worgen desse jeito?

– Demorou um pouco, mas eu acho que consegui entender o que se passou aqui – Lorna ignorou a indignação de Dareon e jogou o diário para que ele o apanhasse no ar. – Pelo menos em parte…

Dareon folheou o diário, mas estava tudo borrado e apagado demais para que se empenhasse em lê-lo.

– Resuma – pediu, bocejando, enquanto devolvia o diário da mesma forma que o recebera.

Lorna Crowley revirou os olhos e segurou o diário com cuidado, alisando as páginas que haviam se dobrado.

– Parece que alguns moradores sobreviveram à Maldição – começou ela. – Pelo que eu entendi, eles se juntaram aos outros sobreviventes nas montanhas, em Tempestária. O nome do autor do diário é Bradshaw, eu acho. Está meio apagado…

Dareon levantou-se e pegou novamente o diário das mãos de Lorna, virando as páginas enquanto a ouvia relatar o que havia descoberto.

– Ele morava em uma serraria abandonada perto da vila – prosseguiu Lorna, apontando no diário um trecho em que havia destacado as direções do local, a nordeste do Vale Tormenta. – Percebeu que os ataques de worgens haviam cessado subitamente e foi embora…

– E para onde é que ele foi?

Antes que Lorna respondesse, Dareon passou os olhos pela última página do diário e, então, falaram juntos a resposta mais desesperadora que se poderia obter para aquela pergunta:

– … Para a Floresta Negra.