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Jogos e violência são temas que costumam aparecer juntos em artigos jornalísticos por aí. Muito por conta de preconceito e por alguns poucos casos de pessoas com problemas psicológicos que utilizaram dos jogos como válvula de escape, mas suas ações fora deles serem responsabilizadas pelos tipos de jogos que jogavam, como já comentamos aqui em posts que tratavam de assuntos específicos a esse tema. Algumas semanas atrás, num artigo da IDGNow, a fala do Ministro da Justiça José Eduardo Cardoso me chamou atenção, e eu gostaria de falar sobre ela.

“Outro dia ouvi um especialista dizer que nunca viu um game em que o vencedor é quem salva vidas, pois o vencedor é sempre quem mata. Essa cultura da exaltação da violência se projeta e acaba banalizando a violência, disseminando uma realidade perversa em que seres humanos podem aniquilar, ferir os outros em atos que são socialmente reprovados”

O mundo dos jogos é bastante diverso. Quem é gamer normalmente teve contato com alguns jogos na vida e pode dizer quais tipos mais lhe agrada. Essa semana por exemplo eu passei muito tempo jogando Harvest Moon (um jogo emulado em Game Boy Advance cujo propósito é você ser um fazendeiro), joguei muito Don’t Starve (um jogo de sobrevivência da Steam) e um pouco de Heroes of the Storm. Nessas férias joguei os mais diversos tipos de jogo: desde storytelling de drama como Life is Strange e indies de comédia como BattleBlock Theater, até o bom e velho WoW, Diablo III, Dishonored (da Steam) e Hearthstone. São jogos bastante diferentes um dos outros, com objetivos diferentes, e sim, muitos deles dependem que eu mate outros personagens (NPC’s ou jogadores) para cumprir meus objetivos. Na minha percepção, a morte em um jogo tem um significado.

Um jogo lhe dá muitas vidas, muitas chances. Lhe dá a chance de voltar atrás e tentar de novo, de salvar o jogo antes de se arriscar a ir para a próxima fase. Se você sabe que tem a chance de morrer e continua tentando, o jogo está lhe dizendo: não desista. Como jogadora, isso foi um dos maiores ensinamentos que eu pude aprender ao longo desses anos jogando tantas coisas diferentes, de que você sempre pode tentar de novo, pensando em novas estratégias para atingir o resultado final. Na vida real nós só temos uma vida que não dá pra ser jogada fora como frequentemente fazemos nos jogos, e é por isso que saindo do mundo virtual e encarando problemas da vida real, temos muito mais bagagem de experiência para pensar melhor sobre nossas ações e tomar as decisões mais rápidas e precisas, ou seja, melhores. Isso inclusive já foi testado cientificamente e provado pela Universidade de Rochester em Nova York.

Quando encaramos outros jogadores num PvP, em qualquer jogo que seja, a morte de outro é encarada como uma vitória sim. Quando somos derrotados, no entanto, aspiramos treinar mais para sermos melhores futuramente. Claro que há jogadores que não lidam bem com a derrota e xingam, esperneiam e culpam qualquer um pela frente pelo seu fracasso, assim como existem vencedores que humilham e menosprezam os derrotados. Nesse caso, acredito que vai da postura que você deseja ter como pessoa, dentro e fora do jogo. Num jogo justo (fair play), se você busca sempre ser o melhor, você deve reconhecer que você precisa treinar muito e treinar sempre, porque qualquer jogo é uma competição. Se toda competição deve ser justa, e ganhar de forma justa com o fruto do seu esforço é a verdadeira vitória, deve ser entendido que aquele que você matou/derrotou foi um competidor necessário para seu aprendizado. Perder deve ser a forma de você revisar seus erros, consertar suas estratégias e tentar de novo até melhorar.

Quanto à frase do Ministro, eu realmente entendo sua preocupação, mas é preciso entender que há diferentes jogos  com diferentes objetivos e histórias, e a morte está lá para trazer aprendizado. Um estudo das universidades Rutgers e Villanova dos Estados Unidos revelou em 2014 que o período de pico de vendas de jogos como Call Of Duty e GTA entre 2007 e 2011 coincidiu com o período de menor taxa de homicídios e lesões corporais graves no país, justamente porque as pessoas estavam em casa jogando, e não nas ruas suscetíveis ao crime.

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Fonte da imagem: Hitek.fr

A saber: primeiro gráfico é o de venda de video games, o segundo de lesões corporais graves, e o terceiro de homicídios.

Hoje existem jogos para matar pessoas, existem jogos para salvar pessoas, existem jogos para plantar nabos e cenouras, existem jogos para tocar guitarras, existem jogos para combinar doces, existem jogos para caçar demônios, existem jogos para atrair gatos, etc etc. Nos jogos (e até no mundo real, arrisco dizer) há mortes que vêm para salvar vidas, e há momentos que salvar uma vida causa uma morte. Precisamos também entender que a morte é uma das consequências da violência, mas antes temos que analisar o que está causando essa violência toda, e jogar novamente a culpa dos problemas do mundo em jogos violentos não é a resposta, até porque temos novelas e filmes que são muito mais populares e mostram isso de maneira muito mais clara. Uma solução? Que tal investir em jogos educativos como forma de diminuir a violência e melhorar a situação do país?

Espero a contribuição de vocês. Valeu gente, e até a próxima. o/

Referências: Estadão, UOL Jogos