Christie Golden veio ao Brasil e fomos conhecê-la! Além de muita conversa, autógrafos e fotos, confira um pouco mais do que rolou nosso encontro!

Se você gosta da história de WarCraft provavelmente já ouviu falar de Christie Golden. Ou se não, sabe que existem livros que dão suporte ao jogo – e Christie é autora de várias deles, como Arthas – The Rise of the Lich King, Marés de Guerra, Crimes de Guerra e muitos outros. Entre seus projetos estão dezenas de histórias de Star Trek, três livros na série Father of the Jedi, do universo expandido de Star Wars (infelizmente desconsiderado como canon /cry), e claro, vários livros em sua autoria para o universo de WarCraft, e também em StarCraft. Ela tem vários projetos pessoais e ela é a responsável pelo arquétipo do vampiro élfico com seu livro Vampire of the Mists (1991). Você pode dar uma passadinha no site dela depois! 🙂

“Sim, aqueles elfos vampiros por aí são culpa minha.”

Christie Golden trabalha com a Blizzard há 15 anos, o primeiro romance foi Lord of the Clans, baseado em cima de um jogo que não deu certo de mesmo nome, que contava a história de Thrall.

Christie veio para palestrar na ComicCon Experience em São Paulo sobre seus livros e tivemos a oportunidade de conversar com essa pessoa e autora fantástica! (E ela usa referências de conquistas pra fazer piada, é muito incrível. )

Meses atrás quando saiu o War Crimes (ou Crimes de Guerra, em português, pela editora Galera Record), eu corri pra comprar um ebook e lê-lo logo. O livro é bem denso. Vamos discutir isso com a Golden mais para frente, mas o negócio é que eu fiquei tão feliz com uma cena que retratei em imagem – eu ilustro pra quem não sabe… ou tento pelo menos – , e por acaso enviaram para o Twitter dela. Ela compartilhou, comentou no meu deviantart. Então, se eu ia entrevistá-la na primeira vinda dela para o Brasil, claro que eu queria que ela associasse o desenho a mim (quebrando o gelo like a boss), então imprimi duas ilustrações (essa e essa) e entreguei para ela.

Separamos umas perguntinhas mais genéricas – daquelas que todo mundo pergunta – e os arriscamos a discutir um pouco de seus personagens com ela. Foi minha primeira entrevista de verdade, e justo com a Golden!

Em todos os momentos, Christie foi muito simpática e atenciosa, ela procurava responder as perguntas de forma profissional sem perder o bom humor. Tendo isso em vista, nenhuma pergunta sobre futuros projetos ou informações de lore não poderiam ser reveladas, as vezes nem ela mesma tem acesso.

Pinky com o livro recém publicado em português, Crepúsculo dos Aspectos, Christie e Lianne segurando os desenhos.

Quando perguntada sobre seu livro favorito (que ela escreveu), Christie brinca que é como perguntar se ela tem um filho favorito, mas que é sempre o ultimo, pois ele apresenta um desafio novo. Christie joga atualmente tanto na horda quanto na aliança, mas sua personagem principal é uma bruxa humana em um servidor RP (óbvio!). Ela aparece no final do Crimes de Guerra fazendo uma pontinha numa batalha (não queremos dar spoilers, ok?). Christie sorri ao frisar que os cabelos brancos e rosto bonito e inocente de sua personagem são para enganar seus inimigos, iludi-los de que ela é mais frágil do que realmente é.

Conversamos sobre o processo de desenvolvimento dos livros. Como funciona, se ela recebe um guia da Blizzard, se ela tem liberdade. E depende do projeto, existem projetos que a Blizzard sabe exatamente o que quer fazer e passa ordens expressas para ela desenvolver em narrativa, as vezes ela tem mais liberdade. O Crimes de Guerra foi um projeto que, para desenvolver, ela viajou para Irvine, sentou com os CDevs e teve liberdade de trabalhar a história. Ela fez muita pesquisa para escrever o julgamento, que era o pretexto e coluna vertebral do livro, e disse que foi bom poder trabalhar com tantos personagens diferentes juntos. Eles conversam, jogam idéias na mesa e vão debatendo. Também depende muito de o quanto ela está envolvida, as vezes a Blizzard não tem certeza de uma coisa e ela assume esse papel de “deixa comigo!”, se eles não gostarem, eles podem tirar, afinal o livro é deles, a história é deles, então está tudo muito na mão da Blizzard, e com o aval da Blizzard. No caso do Crimes de Guerra eles sabiam que teria um julgamento, não saberiam o que iria acontecer, quem estaria lá. Então ela aproveitou isso para desenvolver alguns personagens e seus relacionamentos, como a Vereesa e a Sylvana, Jaina, Baine…

Quando se trata de integrar o gameplay com a história, ela também faz o melhor que pode, tendo em vista que ela também joga (a warlock do final de Crimes de Guerra o/). Ela tenta passar essa interação de uma forma fluida, as vezes limita, e as vezes ela tem a liberdade de fazer algo mais do que você pode fazer no jogo, mas ela acha que as pessoas vão entender que são duas coisas diferentes, e quando você tenta colocar os dois juntos, parece meio estranho.

Quando ela vai escrever sobre um personagem, ela se coloca no lugar dele, pensa como ele pensa, fala como ele fala. Ela tem facilidade para criar esse diálogo, e traduzir como o personagem fala ou se expressa através de sua fala – que se ela fizer o serviço direito, o leitor tem como saber de onde o personagem é, e pegar um pouco de sua personalidade pelo jeito que ele se expressa. Uma coisa escrita no ponto de vista do Anduin não se parece com algo do ponto de vista do Thrall, por exemplo. Golden é responsável pela concepção de personagens como Draka, Taretha Foxton, Kinndy e Kairoz…

Quando perguntada se tem um personagem favorito, existe duas formas de fazer essa pergunta: Um modo é perguntar com quais personagens ela julga que ela se parece mais, personagens que ela se vê mais neles, ela brinca dizendo Gazlowe, porque foi uma pergunta bastante difícil de responder. Ela ama escrever diálogos de goblins. Mas ela finalmente diz que provavelmente Jaina ou Anduin, que ela se sente mais próxima, que representam mais como ela vê o mundo, mas claro que há outros personagens que ela ama escrever. Sobre esses, ela ama escrever sobre a Sylvana, porque ela é má, mas você gosta dela… mas ela é má, e você tem que fazer dela um personagem mal simpático. Ela espera ter quebrado uns corações no final do Crimes de Guerra com a interação entre as irmãs Sylvana e Vereesa.

Sobre a Sylvana, conversamos um pouco sobre a interação das duas irmãs no ultimo livro, e isso é SPOILER para quem ainda não teve a oportunidade de ler: Sylvana e Vereesa tem um objetivo em comum e se encontram depois de tudo o que aconteceu. Podemos ver que as irmãs ainda se amam e querem o melhor para uma a outra, mas temos um problema aí. Amor, felicidade, essas coisas boas que os vivos sentem… machucam os mortos vivos. Não era para eles estarem vivos, então essas emoções e sentimentos são automaticamente rejeitados pelo corpo material deles. Mas isso não é uma coisa que eles tem consciência e vão aprendendo aos poucos – esse foi o ponto principal do desenvolvimento da história da Sylvana no Crimes de Guerra. (Fikdik pros roleplayers de Undead). Ok, acabaram os Spoilers.

Também conversamos sobre Garrosh e Wrathion! Garrosh eraum personagem muito fraco quando Golden começou a trabalhar com ele, e ela o desenvolveu nos moldes do outline que a Blizzard passou para ela. Thrall tentou instigar um orgulho de ser um orc, o que é bom, ter orgulho de ser quem você é, mas o Garrosh não entendeu a lição, ele não aprendeu com o que o pai terminou, mas aprendeu de onde ele começou, e é por isso que ele queria voltar para a Horda de Ferro (Iron Horde), querendo arrumar o futuro pra acertar aquela visão de mundo que ele passou a ter. Então ele começou a pavimentar esse caminho, ele seguiu de um orgulho racial para uma superioridade racial e todos sabemos onde isso vai parar e não é nada bom.

Christie diz que escrever sobre Wrathion é muito divertido. Então vamos ter que esperar o que a Blizzard está preparando para ele, ele é um personagem bem fácil de escrever, escrever diálogos para ele é como se estivesse ouvindo a voz dele na sua cabeça, o dublador dele faz um trabalho tão bom. Ele não é filho direto do Asa da Morte (Deathwing), e seria legal ver a reação do Wrathion ao saber que o Sabellian ainda está em algum lugar de Terralém (Outland). Pra quem nào sabe, Sabellian é o outro filho do Asa da morte com Lady Sinestra (Sintharia), além de Nefarian e Onyxia.

Extra: Só deixando uma informação aqui para os ávidos por Lore que estão interessados em Kul Tiras: Tandred não deve virar oficial tão cedo (Não vai, até onde sabemos), então oficialmente a Jaina seria a rainha de Kul Tiras. Ah, e a meia-elfa também nunca vai ser oficializada. Não entramos muito na questão de Kul Tiras porque não é uma coisa que ela tenha controle ou informações a respeito. Tudo pode mudar, porque é uma nação que está a deriva e em algum momento a Blizzard pode retomar isso.

Uma coisa a se pensar antes de levantar na Blizzcon, ou fazer qualquer pergunta de lore para um escritor ou CDev é nas limitações que eles terão para te dar nas respostas. É inútil perguntar “Turalyon e Alleria vão aparecer quando?”. O que dá pra fazer é pedir a opinião dela, ou o que ela gostaria que acontecesse. De qualquer forma, não daria pra considerar nenhuma discussão dessa natureza fora do âmbito de teoria, e não poderíamos tomar como fatos.

Falando sobre natureza de personagens, perguntamos como ela lida com personalidades diferentes atribuídas por diferentes autores a certos personagens e como manter esse personagem coerente. Tudo vem e volta da Blizzard. Então, o que eles falam é o que é escrito, você tenta deixar o máximo de conteúdo consistente que você pode, mas nem sempre isso é viável, pode conta do tempo, ou do tanto de material que você tem que ler, pesquisar e conversar. E então, é trabalho da Blizzard manter os autores no caminho certo, porque eles sabem de tudo. Eles tem o conhecimento. Ela tem uma visão da coisa, o Richard (Knaak) tem outra, cada um tem seu próprio ponto de vista do que eles estão fazendo, e tudo volta para a Blizzard, então os autores dependem da Blizzard dizer quando eles estão saindo muito do que se é esperado deles.

Na Comic Con, ela também respondeu a perguntas e realizou palestras tanto na 6ª quanto no sábado, sendo o sábado focado para o universo de WarCraft. Ela esteve no quiosque da Editora Galera Record durante a sexta e o sábado distribuindo autógrafos.

Christie Golden também autografou dois livros para nós sortearmos, um “Crimes de Guerra” e o mais recente traduzido pela editora Galera Record “Crepúsculo dos Aspectos” –  então fique ligado que eles podem ser seus! Em breve mais informações sobre isso 🙂

Obrigada pessoal por ter acompanhado a gente nessa entrevista, espero que tenham gostado! Deixem seus pensamentos nos comentários! 🙂