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Este é o 11º artigo de 23 posts da série Renegada.

 

– O que eu faço? – Halie berrou para o dispositivo silencioso. – Me diga o que eu faço agora!

– Pare de gritar, menina, o Comandante não vai responder – disse Rutsak.

– Oh – Halie cobriu a boca com as mãos, os olhos arregalados de espanto. – Você acha que ele está… está…

– Morto? – Rutsak chacoalhou a cabeça. – Claro que não, que ideia. Ele não é Comandante Avançado à toa, Halie. Sabe o que está fazendo. Só não vai responder porque deve estar ocupado demais lutando contra aqueles monstros… Oh, que terrível é isso tudo, não? Eu só gostaria de poder prosseguir na minha morte-vida em paz…

Halie olhou para baixo.

– Eu também – sussurrou.

– Ei – Rutsak abaixou-se e olhou-a nos olhos. – Você fez muito por mim e por todos os Renegados, filha. Não devia se sentir tão mal por ser morta-viva.

– Oh, não, eu não…

– Se sente, sim. Não negue. Você possui essa… tristeza inerente. Está presente no seu olhar, no modo como você fala e se dirige aos outros Renegados. Até na maneira como anda.

Halie deu uma risadinha.

– Sou tão melancólica assim? – encarou o chão novamente. – Só que queria que as coisas fossem um pouco mais fáceis.

– Todos gostaríamos – o Capitão sorriu da maneira mais terna que sua mandíbula desencaixada permitia. – E é por isso que lutamos. Se me permite dizer, Halie, não penso que você precise da ordem do Comandante para agir. Nem agora e nem em qualquer outro momento. Você já demonstrou seu valor à causa de várias maneiras, e até Sylvana possui total confiança no seu trabalho.

– Obrigada, Capitão – Halie levantou-se e espiou pela porta a enorme muralha de Guilnéas. – Mas agora… Eles estão sendo atacados!

– Halie, com todo o respeito… Um Renegado a mais ou a menos não vai significar vitória nesse caso. É preciso ganhar a guerra, não a batalha.

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– O que quer dizer? – perguntou distraidamente, observando a parte da grande ponte de pedra que levava à entrada da cidade que era visível daquele ponto.

– Quero dizer que está olhando na direção certa. Literalmente.

Halie demorou alguns segundos para entender. Tirou os olhos da paisagem e encarou Rutsak.

– Quer que eu volte para Guilnéas? – perguntou numa voz estridente.

– Você sabe que deve – respondeu o Capitão. – Se realmente achasse que o certo era sair correndo até o Comando Avançado, já estaria à meio caminho de lá a uma hora dessas.

– Talvez – disse baixinho após algum tempo. – É que eu… não consigo entender como foi que eles conseguiram passar pela esquadra dos Renegados sem que ninguém notasse.

– Vá e descubra, oras.

– Mas agora? – Halie olhava de um lado para outro, nervosa. – Será que eu não deveria ir até o Comando antes? Ajudar um pouco, quem sabe?

– É claro que é agora, menina! Não sabemos o que nos traz o dia de amanhã.

– E o senhor acha que eu posso descobrir isso lá dentro?

– Sinceramente, Halie? Eu não sei. – o Capitão empurrou-a porta afora e apontou para a ponte. – Mas aqui na minha casinha você vai descobrir muito menos, não é? Anda logo.

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Halie ficou do lado de fora, encarando a porta que Rutsak havia acabado de fechar com força. Olhou várias vezes para a ponte, depois olhava novamente para a porta, tentando decidir de uma vez o que devia fazer.

De cabeça baixa, virou-se na direção de Guilnéas e deixou a Guarda de Rutsak lentamente. Olhou para trás constantemente, até não poder mais enxergar o pequeno morro onde encontrava-se o Capitão, e só então começou a correr.

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Esgueirou-se para dentro da Cidade por uma brecha atrás de uma das colunas da ponte e logo voltou a esconder-se nas mesmas ruínas em que havia se escondido da primeira vez. A praça estava lotada de soldados novamente, da mesma forma como estivera antes, mas agora a figura imponente de Pietro Zaren não mais enfeitava a enorme escadaria da catedral.

Halie precisou agachar-se mais e dar alguns passos para trás quando uma guerreira da 7ª Legião ameaçou aproximar-se mais do que deveria das ruínas. Quando ela passou reto e deu meia-volta, Halie aconchegou-se melhor num canto e pôs-se a observar de longe a maneira como os soldados se portavam, os lugares para onde mais se dirigiam e com quem falavam.

Foi quando se cansou de espiar, porém, que algo realmente chamou-lhe a atenção. Estava num canto, quase escondida, praticamente impossível de ser notada por um olhar desatento qualquer: uma enorme estrutura metálica dourada, mal iluminada pela luz de uma lamparina quase apagada, virada na direção do cais que cercava a cidade.

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– Um telescópio? – Halie sussurrou para si mesma, encostando as pontas dos dedos no metal frio.

Olhou para cima, alarmada com o tamanho do objeto. Puxou uma alavanca e ajustou a extremidade menor para que ficasse perto de seus olhos. Ainda assim, precisou esticar-se nas pontas dos pés para alcançá-la.

Levou alguns segundos para aprender a manejar o peso do telescópio, mas logo conseguiu mover a lente para outras direções. À esquerda e à direita, tudo o que podia ver eram as pedras da encosta e a grande porção de água que estendia-se até perder de vista. Halie já ia largar a manivela, temendo perder muito tempo com coisas sem importância, quando o foco do telescópio parou em um ponto aleatório, quase em linha reta.

Precisou piscar forte duas vezes para ter certeza de que estava enxergando bem. Podia enxergar todo o convés de um submarino emergido, lotado de soldados da 7ª Legião, alguns ainda com as cabeças cobertas por capacetes de ar. Na proa, um homem bem vestido, com aparência de Capitão, apontava seu próprio telescópio para a frente.

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Halie apontou o foco para a mesma direção em que ele olhava. Sentiu o medo assaltar-lhe antes mesmo de conseguir distinguir a cena que via: por trás das lentes molhadas do enorme telescópio, com a visão pouco nítida devido à chuva constante, ela pôde ver claramente uma frota completa de navios da Aliança se aproximando.