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Este é o 16º artigo de 23 posts da série Renegada.

 

Halie chegou a soltar um gritinho agudo quando percebeu que não conseguiria alcançar o portal a tempo. Olhou para trás, encarando os trabalhadores e aprendizes que corriam em sua direção. Alguns haviam parado para amparar Relios, que continuava caído onde o deixara momentos antes, mas a maioria dos seguidores do grande mago se ocupava mesmo em tentar capturar a morta-viva que invadira seu acampamento e lutara com seu líder.

Pulou para dentro da cratera e deslizou sobre o solo inclinado e escorregadio. Procurou com os olhos o local onde estava o portal que a levaria de volta à câmara de Dalar Tessalba, apalpando o bolso para se certificar de que o anel ainda estava ali, e então continuou correndo por entre as fendas do terreno irregular, tendo ainda que evitar os encontros com os hostis seres arcanos que patrulhavam toda a extensão dos restos da antiga Dalaran.

– Ei, você! – berrou alguém.

Halie sentiu um impacto forte nas costas e tropeçou levemente, mas não parou de correr. Conseguia notar que o grupo se dissipara, e agora apenas alguns servos de Relios – os mais jovens, talvez – prosseguiam em sua direção.

Embalada pela descida, rodeou em um grande rochedo e deu um jeito de caber no meio de uma fissura estreita. De onde estava, conseguia enxergar o portal, no centro da cratera. Calculou a distância e concluiu que precisaria ainda vencer um bom trecho até chegar lá embaixo, e depois correr em direção ao portal, em terreno aberto.

Ouvia os passos se aproximando. Sem saber mais o que fazer, tendo certeza de que jamais seria capaz de enfrentar todos de uma vez só, Halie fitou o brilho do portal uma vez e então fechou os olhos com força, apertando as mãos dos lados do corpo, desejando…

– Estamos te vendo!

A realidade era que não sabia exatamente o que desejar. Por favor, pensava apenas. Por favor, por favor, preciso chegar ao portal, por favor…

Parou de ouvir qualquer barulho. Sentiu um impulso involuntário puxá-la para a frente e teve a sensação de que caía no limbo. Um lampejo de luz repentino piscou à sua frente, transformando o céu momentaneamente num clarão ofuscante. Abriu os olhos, exasperada, os braços erguidos sobre o rosto, e viu-se de pé no centro da cratera.

Arregalou os olhos, alarmada, e girou em torno de si mesma, procurando entender como chegara até ali. Localizou com o olhar o grande rochedo atrás do qual estivera escondida, e viu e fenda estreita ao longe, em frente ao ponto onde estava parada agora.

Viu também quando os quatro aprendizes de mago que a perseguiam alcançaram a fenda e olharam-se, sem entender para onde podia ter ido. Halie mais uma vez olhou demoradamente para os lados, admirando o que havia acontecido. Riu abertamente e correu até o portal, deixando para trás a enorme cratera de Dalaran e seus confusos perseguidores.

– Ei, olá, menina! – disse Dalar assim que a viu. – Como foi? Está tudo bem? Você está com uma cara de assustada…

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– Está – respondeu Halie, tirando do bolso as pequenas esferas luminosas que havia recolhido. – Eu só… não é nada. Deixa para lá. Olha só, encontrei essas coisas na cratera. Pensei que talvez você pudesse utilizá-las de alguma forma.

– Mas isso é incrível! – Dalar deu um gritinho animado e indicou uma bacia de barro encostada em um canto da saleta. – Pode colocar ali, por gentileza… Que moça esperta! Estas são as energias do meridiano, com certeza vou poder utilizar esses remanescentes arcanos em meus estudos. De fato, Dalaran foi construída sobre uma imensa linha de meridiano. Não me surpreende que seja possível encontrar coisas assim por lá.

Halie sorriu timidamente e ergueu o anel na altura do olhar de Tessalba.

– Também consegui o anel – disse.

– Oh, perfeito! – o mago uniu as mãos e recebeu o anel-sinete. – Espero que não tenha dado muito trabalho. Relios foi meu aluno, na época em que eu era mortal… Oh, velhos tempos – chacoalhou a cabeça e pegou novamente o códice, que estivera pousado sobre a mesa. – Mas vejamos esse anel…

Halie observou Dalar Tessalba encaixar o anel no dedo e deslizá-lo sobre a lombada do livro de cima para baixo. Após alguns segundos, o brilho das runas se enfraqueceu e as páginas do códice se soltaram. O mago folheou-as com cuidado e leu cuidadosamente o texto contido na última folha escrita.

– O que é? – perguntou Halie, curiosa.

Tessalba ainda demorou mais alguns segundos encarando a mensagem antes de fechar o códice e olhá-la com ar cansado.

– Isso… é mau – disse. – É o seguinte, Halie: apenas UMA pessoa, usando esse anel, pode entrar no nicho dimensional em Lenhâmbar. Essa pessoa vai precisar enfrentar um exército de magos, e provavelmente matar o arquimago que está gerando o campo de força pelo lado de dentro. Só então a dimensão se fechará, expulsando todos os magos. O portal de entrada está escondido no final da caverna, na Cilada de Beren.

Dalar Tessalba encarou o chão e tirou o anel do dedo. Entregou-o a Halie junto do códice e segurou suas mãos por um instante.

– Isso é tudo o que sei. Agora vá, leve o anel de volta para Sylvana.

Halie assentiu e despediu-se rapidamente. Correu para fora da estalagem na direção de Carlos Razok, o tratador de morcegos, que a recebeu com sua melhor expressão de desprezo.

– Oh, agora você volta, não é? – murmurou.

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Halie sorriu.

– E já estou indo embora, não se preocupe.

– Para onde?

– Para a Linha de Frente – Halie pulou nas costas de um morcego. – E rápido.

– Você é muito apressada, moça – Carlos Razok entregou-lhe as rédeas da montaria. – Até outro dia.

Sobrevoou a Floresta de Pinhaprata mais uma vez, agora pelo caminho inverso. Quando pousou na Linha de Frente dos Renegados, saltou de cima do morcego antes que este parasse completamente e correu ao encontro da Rainha Banshee.

– Oh, olá – disse Sylvana. – Já estava ficando preocupada. E então, conseguiu?

Halie assentiu com a cabeça e entregou-lhe o anel-sinete de Relios.

– Alguém precisa entrar no nicho dimensional em Lenhâmbar usando este anel e desativar o campo de força – explicou. – Mas será preciso derrotar um exército de magos e o arquimago que o está gerando.

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– É só isso? – Sylvana girou o anel na palma da mão. – Então, o que estamos esperando? Vamos nos prep…

– Senhora – Halie chamou timidamente. Sylvana parou de falar e encarou-a. – Não é possível levar todo o exército. Apenas um pode entrar.

A Grande Dama Sombria ficou em silêncio por alguns instantes, encarando o chão. Quando ergueu a cabeça, olhou para suas val’kyren. Uma de cada vez, as três balançaram a cabeça em assentimento.

– Foi o que pensei – murmurou a Rainha. Ajeitou o capuz e esticou o anel na direção de Halie. – Querida, acho que só há uma pessoa certa para essa missão.

Halie recebeu o anel e ficou quieta, olhando-a. Demorou alguns segundos para entender o que estava acontecendo, e então piscou rapidamente, os olhos arregalados, a boca aberta em choque.

– Eu… eu não… eu… – sua voz saía fina e assustada. – Por quê?

Sylvana pareceu verdadeiramente surpresa com a pergunta.

– Como assim? – riu. – É obvio, não é? Vai dar tudo certo. Além do mais, vou preparar minhas tropas e deixá-las a postos.

Halie apertou o anel-sinete nas mãos, preocupada.

– Onde fica a entrada? – perguntou Sylvana.

– Numa caverna – Halie disse baixinho. – Na Cilada de Beren.

– Certo. Fica a sudeste – apontou na direção. – Quando chegar lá, vasculhe essa caverna e encontre o portal para o nicho dimensional que esconde os magos de Lenhâmbar.

A Rainha Banshee tocou-lhe os ombros ternamente e abrandou o tom de voz.

– Fique tranquila – disse, de modo que só Halie pôde ouvi-la. – Eu me comunicarei com você mentalmente. Quando chegar ao portal, lhe darei suas ordens.

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Halie seguiu pela estrada que Sylvana havia indicado até que avistou um pequeno caminho que parecia se enveredar pelo meio de algumas pequenas montanhas. Logo no início, havia bandeiras fincadas no chão e um pequeno posto de guarda, em torno do qual um mago caminhava lentamente, patrulhando a região.

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Tentou passar despercebida, mas o mago logo a viu e correu em sua direção. Possuía uma pequena maça espinhada, em forma de serpente. Vestia um gibão com o símbolo dos magos de Dalaran, e, assim que se aproximou o suficiente, um pequeno campo de força ativou-se em torno de seu corpo, tornando-o menos vulnerável aos ataques inimigos.

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Halie alarmou-se com a rapidez do jovem mago. Precisou fugir durante alguns segundos para conseguir ganhar algum espaço entre os dois, o que lhe daria alguma vantagem, uma vez que poderia prendê-lo no chão. Assim que o fez, acertou-o com três setas de gelo e deixou-o para trás no lugar onde caíra.

Encontrou a caverna com facilidade, uma grande entrada esculpida na pedra bruta. Permaneceu escondida durante alguns instantes, analisando de longe o caminho que tomaria ao entrar.

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A caverna mostrou ser bem comum: escura, úmida e fria. A despeito de seus esforços para se esgueirar pelos cantos e permanecer oculta quando precisava, Halie ainda precisou lidar com mais alguns sentinelas, que patrulhavam a trilha que levava até o portal.

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Admirou-o de longe, encarando o brilho esverdeado que iluminava parte do fundo da caverna. Havia apenas um vigia à sua frente, balançando-se para a frente e para trás, distraído com as formas das sombras nas paredes. Halie deu a volta nas colunas de pedra e chamou a atenção do jovem aprendiz para longe do portal.

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Passou por ele com facilidade e aproximou-se do portal. Fitou-o durante alguns segundos até que ouviu uma voz suave falar-lhe, vinda de lugar nenhum:

– O portal é este. Entre assim que estiver pronta.

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