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Este é o 10º artigo de 46 posts da série Entre Homens e Lobos.

Boa leitura!


WoWScrnShot_110113_212829Lorde Vincent Godfrey suspirou longamente e apoiou o corpo na pilha de malas ao lado.

– Não vou mentir, Dareon – disse. – Não gosto nada da ideia de ter worgens entre as nossas fileiras… Ainda não superei minha worgenfobia, estou odiando tudo isto. Sabe-se lá quanto tempo essa poção do Krennan vai durar e quando você vai começar a querer arrancar a cabeça de alguém…

Dareon rosnou baixinho. Uma mulher, que estivera todo o tempo ao lado de Godfrey, tocou-lhe o braço e chacoalhou a cabeça em desaprovação.

– Vincent, por favor, não acho que esse seja o momento apropriado para…

– Se acalmem, vocês dois – Godfrey revirou os olhos. – É o seguinte, Dareon: vamos usar e abusar dessa sua… eh, ferocidade… até quando for possível. Há soldados espalhados pelo campo de batalha, lutando contra os Renegados. Nós precisamos que você vá até lá e os ajude. Mate o máximo de mortos-vivos que puder, da forma mais brutal possível.

Tendo que erguer os braços para alcançar os ombros de Dareon, Lorde Godfrey atreveu-se a dar-lhe um chacoalhão inesperado.

– Vamos inculcar neles o medo de worgens, Dareon! – berrou.

Um vigia pigarreou e deu um passo na direção de Godfrey.

– Se me perdoa a interrupção, senhor, acho que é importante lembrar que as catapultas dos Renegados estão arrancando o nosso couro. E, mesmo que nós conseguíssemos superá-las, eles têm dois navios com baterias de canhões à postos…

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Godfrey ajeitou a cartola no topo da cabeça e alisou o paletó.

– De fato – concordou. Passou os dedos pela barba grisalha e pensou durante alguns instantes. – Bem, mas talvez possamos matar dois coelhos com uma cajadada só. E Dareon, você é o cajado!

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Dareon aguardou que Lorde Godfrey terminasse de rir da própria piada para explicar o plano.

– Certo – Godfrey tossiu. – Então… Sim. Mate os maquinistas que operam as catapultas e, em seguida, use-as para se lançar para dentro dos navios dos Renegados.

– E como é que…

– Dareon, se sua mira for minimamente boa, você deverá aterrissar sem problemas. Por acaso tem noção do seu tamanho, rapaz? – olhou-o de cima a baixo. – Você vai ser o worgen-bala!

Godfrey riu novamente, mas logo se recompôs e prosseguiu:

– Bem, é… é isso. Uma vez a bordo, vá para baixo do convés e dê cabo dos capitães dos dois navios.

Dareon sorriu, irônico, tendo consciência de que mostrava as presas para Godfrey.

– Você fala como se fosse fácil – resmungou, dando-lhe as costas.

Sentiu uma mão delicada pousar em seu braço e virou-se bruscamente. A humilde moça que permanecera ao lado de Lorde Godfrey durante toda a conversa retirou a mão rapidamente, assustada, e encolheu-se sob a sombra de Dareon.

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– Eu… desculpe… – murmurou baixinho.

Dareon balançou a cabeça.

– Pode falar – disse em tom brando, e pensou, alegre, que sua voz saíra ótima naquela frase.

– É q-que… – a moça chorosa enxugou os olhos com a ponta do avental – os militares não querem deixar que eu saia do abrigo, m-mas os meus filhos ainda estão lá f-fora! Preciso que salvem as crianças! Os Renegados não t-têm a menor consideração por vidas inocentes, m-meus filhos estão c-correndo um grande p-perigo…

Melinda Hammond começou a soluçar copiosamente, cobrindo o rosto com as mãos. Dareon esticou o braço para acalmá-la, mas decidiu retirá-lo antes que ela se assustasse mais ainda com as garras.

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– Por favor, você p-precisa encontrá-los – pediu ela com a voz embargada. – Eu… eu…

– Fique tranquila – disse Dareon –, eu posso procurá-los… Como eles se chamam?

– T-tem a Cynthia, a Ashley e o James – Melinda fungou mais uma vez. – Se você os encontrar, traga-os até aqui, p-por f-favor…

Dareon sorriu para a pobre moça com a boca fechada, tentando de toda forma parecer simpático. Viu de longe quando um dos vigias puxou um banco debaixo de uma mesa de madeira e a Sra. Hammond sentou-se, parecendo pequena e frágil, o corpo inteiro tremendo devido ao choro.

As crianças primeiro, pensou, gravando na memória os nomes dos filhos de Melinda, e então tentou imaginar qual seria a reação de uma criança diante de um worgen daquele tamanho. Uma vez fora do porão dos Allen, uivou baixinho algumas vezes para limpar a garganta e, tomando fôlego, chamou pela primeira vez:

– Cynthia! Ashley! James!

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Tudo o que ouvia eram as explosões dos tiros de canhão na praia. Decidiu circular mais um pouco pela propriedade e então voltou a gritar:

– Ashley, você está aí? Cynthia! Jam…

Ouviu um barulhinho diferente e ficou quieto por um momento, tentando escutar melhor. Era um soluço fraco, inconfundível, e Dareon seguiu o som até enxergar um pedaço de tecido cor-de-rosa por entre as folhas de um milharal.

– Ashley? – perguntou. – É você?

A garotinha soluçou mais uma vez e parou, balançando suas tranças louras. Quando Dareon apareceu, ela assustou-se e correu para dentro de uma pequena casinha que servia de depósito de alimentos.

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– Oi – Dareon sussurrou, ajoelhando-se para ficar do tamanho da menina. Ela encolheu-se atrás de um barril e olhou-o por cima da tampa, as mãozinhas segurando nas bordas com dificuldade. – Ei, amiguinha… Eu não vou te machucar. Você é a Ashley?

A garotinha negou com a cabeça.

– Bem, então você só pode ser a Cynthia. Acertei?

– Acertou – a menininha esfregou os olhos com uma das mãos –, mas você me dá medo, eu quero a minha mãe…

– Está vendo aquela porta no chão? – ele apontou na direção do porão. – Ali, atrás da casa? Sua mãe está ali dentro. Você consegue correr até lá? Muito rápido?

Cynthia saiu de trás do barril e olhou para cima para encará-lo uma vez. Assentiu rapidamente com a cabeça e correu até um dos vigias que guardavam a entrada do porão, que acenou para Dareon e guiou a garotinha até sua mãe.

Aguardou pacientemente até que Cynthia estivesse em segurança e voltou a rodear o terreno da Fazenda, chamando as crianças pelo nome.

– Ashley! James!

– O quê? –uma voz fraquinha gritou em resposta de repente. – Aqui! Eu! Aqui!

Dareon encontrou o pequeno James tentando subir em uma carroça cheia de feno, atrás de uma das casas menores. O menino ficou paralisado ao vê-lo e gritou, apavorado.

– Não, não grite, eu vim para levá-lo até sua mãe – explicou Dareon.

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James pulou da carroça, ainda desconfiado, e remexeu um montinho de terra com o pé.

– Não me machuca – pediu ele. – Eu só estava procurando as minhas irmãs… Acho que a Ashley está dentro daquela casa, bem ali…

Dareon olhou na direção em que o garoto apontara e esticou a mão para que James a segurasse.

– Eu vou encontrar a Ashley para você, está bem? Agora venha comigo, vou te levar para um esconderijo, junto da Cynthia e da sua mãe.

James concordou em ir depois que Dareon prometeu ir atrás de Ashley pela quinta vez. O mesmo vigia que havia cuidado de Cynthia recebeu James e o ajudou a descer as escadas para dentro do porão.

Dareon recebeu um aceno entusiasmado e, depois de se certificar de que James estava seguro, correu até a casa indicada pelo menino.

Ashley? – chamou.

Uma garotinha de cabelos alaranjados apareceu no topo das escadas, olhou-o uma vez e correu de volta para o quarto, gritando. Dareon subiu logo atrás e já foi se explicando no caminho para ganhar tempo.

– Não precisa ter medo, eu vim salvar você – disse, entrando no pequeno quartinho singelo.

Dois olhinhos curiosos o espiaram por uma fresta, então Ashley saiu de dentro do armário e parou em frente à cama. Presenteou-o com um sorriso e jogou as tranças para trás.

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– Desculpe, senhor worgen – disse ela. – Você é um daqueles worgens bonzinhos? Onde está a minha mãe? E a Cynthia, você já viu a Cynthia? É aquela ali – ela apontou na direção da parede, onde estavam pendurados os retratos de James e Cynthia, lado a lado. – E aquele é o James.

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Dareon sorriu de volta.

– Eu já os conheci. São muito simpáticos, assim como você.

– Obrigada – Ashley ergueu a mão para que Dareon a segurasse. – Vamos embora?

Conversou com a garotinha durante o curto caminho até o porão dos Allen. Melinda acenou alegremente da base das escadas, agradecendo-o com palavras silenciosas. Dareon acenou de volta e aguardou que Ashley acabasse de descer os degraus, correndo em seguida para dentro do porão.

Cumprimentou rapidamente os vigias da entrada e recebeu um latido de um dos mastins. Caminhou lentamente sob a chuva, ensopando o pelo e as roupas – que ainda achava um tanto pequenas, mas as mantinha no corpo por respeito aos amigos. Esgueirou-se pelo meio das plantações até o limite da praia, de onde já podia enxergar a batalha travada perto dos navios. Os canhões disparavam suas bombas incessantemente, incendiando árvores e bloqueando passagens ao redor da Fazenda.

As catapultas estavam dispersadas estrategicamente pelo campo, todas operadas por um maquinista. Dareon aguardou um momento oportuno e correu em direção à que mais lhe servia, mal dando tempo ao soldado Renegado de virar-se de frente para o ataque.

Com a força que tinha, Dareon atirou-o para muito longe. Encarou o enorme navio de guerra dos mortos-vivos, com suas caveiras e velas escuras, e então olhou para a catapulta abandonada ao seu lado. Suspirou, pousando uma pata na corrente que prendia a roda, e, num impulso, girou a máquina na direção do convés do navio mais próximo.

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