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Este é o 13º artigo de 46 posts da série Entre Homens e Lobos.

 

Lorde Godfrey sorriu quando Dareon apareceu novamente no porão dos Allen.

– Oh, você conseguiu! Você… conseguiu, não é?

– Consegui – Dareon lançou outro sorriso em resposta, lembrando-se logo depois de que aquilo que fazia com a boca não parecia nem um pouco um sorriso, agora que era um tremendo worgen.

Godfrey fez uma careta e deu de ombros.

– Isso deve detê-los por algum tempo, eu espero…

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Foi então que aconteceu. Tudo em volta ficou embaralhado e o chão tremeu, tão violentamente que Godfrey foi atirado com força para trás e Melinda estatelou-se sobre a pequena mesa que ficava logo ao lado. Os soldados seguravam-se em qualquer apoio próximo, assustados, todos entreolhando-se com uma expressão de terror estampada nos olhos.

O tremor parou tão repentinamente quanto começara. Todos continuaram imóveis, nas mesmas posições que haviam sido obrigados a adotar, e se passaram bem uns cinco segundos de silêncio até que Lorde Godfrey gritasse.

Mas o que diabos foi isso?

O caos instaurou-se imediatamente. Os soldados falavam todos ao mesmo tempo, dando palpites sobre a origem do fenômeno em meio aos latidos desesperados dos cães, e Melinda saiu correndo em busca de seus filhos.

– Eu vou lá fora ver o que aconteceu – disse um dos vigias.

Dareon correu até ele e pousou a pata em seu tórax.

– Eu vou – disse enfaticamente, e subiu correndo as escadas sem deixar tempo para resposta.

O susto que tomou ao sair para fora do porão foi tão grande que Dareon sentiu-se tonto. Chovia mais do que nunca, e aquela paisagem que deixara para trás alguns minutos antes não mais existia; agora a água cobria tudo, desde a encosta até perto da casa dos Allen, parando apenas diante de uma barreira de rochas que se formara.

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Ao longe, os dois navios dos Renegados estavam afundados. Os campos, ricos em plantações e árvores, também haviam sido submergidos, dando lugar à uma imensidão aquática de restos flutuantes.

Ao seu lado, dois mastins latiam sem parar na direção da água. Avançavam alguns passos, depois recuavam, amedrontados, até que Dareon agachou-se e acariciou suas orelhas.

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Deixou-os para trás, chorosos, e vagueou sem rumo pelo lado da fazenda que não havia sido destruído. A princípio, sua única companhia foi a dos animais aterrorizados que se encolhiam em um canto do celeiro.

– Ei! – um grito despertou-o do choque.

Dareon olhou em todas as direções até avistar um homem emergindo, os cabelos compridos escorridos por cima do rosto. Um segundo depois, o homem puxou para cima um soldado desacordado e o deitou sobre uma das rochas, e só então tirou o corpo inteiramente da água.

– Olá – Dareon disse baixinho, aproximando-se vagarosamente.

O desconhecido empurrou os cabelos para trás e levantou-se. Dareon reconheceu, então, a figura de Liam Greymane, o príncipe de Guilnéas, arriscando-se para salvar seu povo.

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Liam! Você não… Como?

– Ei, Dareon, como vai? – o soldado desmaiado ao seu lado começava a retomar os sentidos, tossindo sem parar e cuspindo água para todos os lados. – Eh… Estou um pouco atarefado aqui, importa-se de me ajudar?

– Liam, o que diabos aconteceu aqui? – Dareon perdeu a paciência.

Liam Greymane suspirou pesadamente e esticou o braço na direção da água.

– O oceano, Dareon… – disse com a voz embargada. – Engoliu tudo! As terras… os Renegados… e…

Dareon lançou mais um olhar ao soldado resgatado e então compreendeu.

– … E os nossos homens – concluiu, ao que Liam assentiu com a cabeça.

– Não tínhamos previsto nada disso. A terra treme, Dareon! Olhe o que nos aconteceu…

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– Você está aqui desde quando? – Dareon quis saber.

– Eu estava chegando quando tudo aconteceu – explicou Liam. – Não temos tempo a perder. Boa parte da guarda da cidade estava na área quando tudo desabou. Eu estou tentando salvar os que estão à vista, mas não consigo ir muito para lá…

– Eu vou – disse Dareon conclusivamente. – Só fique aqui e tome as providências para que eles tenham toda a assistência necessária.

Não deixou tempo suficiente para que Liam respondesse e saiu correndo pelo terreno acidentado, procurando pelo melhor lugar para se jogar nas águas mais profundas. Mergulhou o mais rápido que conseguiu, pensando em todos os pobres soldados afogados que estariam precisando de sua ajuda naquele momento.

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A visão que teve debaixo d’água foi assustadora. Destroços dos navios e pedaços de madeira flutuavam em meio às silhuetas dos corpos inertes de soldados guilneanos e Renegados. Dareon empurrou o corpo com as enormes patas até alcançar um dos soldados e o puxou para cima, apoiando-se numa tora de madeira para conseguir equilibrar o peso nas costas e nadar até Liam.

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O Príncipe ajudou a puxar o primeiro soldado para a terra firme e Dareon submergiu mais uma vez em busca de aliados. Repetiu a viagem por incontáveis vezes e, após um certo tempo, começou a sentir-se exausto, mas negava-se a parar até que Liam segurou seu braço e chacoalhou a cabeça tristemente.

– Já chega, Dareon – disse ele, puxando-o para as rochas. – Os últimos que você trouxe… Nós não conseguimos salvá-los. Parece que o tempo foi nosso inimigo.

Dareon subiu e observou incredulamente uma fileira de corpos sem vida, os últimos soldados que tentara resgatar. Ao lado de Liam, um soldado desperto tentava salvar um colega desacordado. Depois de alguns segundos, desistiu e afastou-se com um longo suspiro.

– E-eu sinto muito – disse Dareon, aproximando-se do soldado. Agachou-se ao lado dele e levemente botou a enorme pata sobre suas costas.

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– Você fez tudo o que podia – Liam consolou-o de longe. – Com sorte, mais alguns poucos conseguirão chegar até a praia…

Liam foi interrompido por um novo tremor, quase tão forte quanto o outro. Dareon ouviu o barulho da pequena casa de madeira chacoalhando-se e viu pedaços das paredes se desprendendo e quebrando ao bater no chão. A longa extensão de água que agora cobria quase todo o território vibrou e ondas subiram as rochas, encharcando os que estavam em terra firme.

Depois de passado o choque inicial, Dareon e o Príncipe entreolharam-se com a mesma expressão de pânico.

Precisamos sair daqui! – Dareon gritou primeiro.

– Diabos, como precisamos! – Liam juntou sua camisa do chão e fez sinal para que os soldados se aproximassem. – Estamos escapando da morte por obra do acaso, Dareon… Mas não sabemos até quando isso vai durar.

– Tenho que falar com Godfrey…

– Ele já sabe de tudo, subiu aqui umas três vezes enquanto você resgatava os soldados – Liam vestiu a camisa com pressa e meneou a cabeça em desaprovação. – Que tristeza, Dareon… Está tudo sendo alagado. Eu não queria perder minha terra natal duas vezes na vida, mas terremotos são um inimigo que não podemos derrotar…

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Os soldados agitavam-se, alguns ainda tossindo enquanto se recompunham para seguir Liam. Um deles passou por Dareon e deu-lhe um leve tapa no braço, um pouco acanhado.

– Ei… – chamou. – Obrigado por… me salvar. Acho que lhe devo minha vida.

Dareon assentiu amigavelmente e o soldado se afastou. Liam prendeu suas armas à cintura e jogou os cabelos para trás.

– Acho que é isso, Dareon – disse por fim. – Eu cuidarei de todos por aqui. Quanto a você… diga a Gwen Armstead para começar a evacuação.