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Este é o 15º artigo de 46 posts da série Entre Homens e Lobos.

Dareon tirou do bolso a maçã que havia guardado e engoliu-a em duas mordidas. A chuva seguia caindo com força, atrapalhando a visibilidade e tornando difícil a caminhada, mas ele persistia em sua missão, mesmo precisando atravessar a floresta encharcada em meio às raposas famintas que vagueavam pela região.

Ao longe, a silhueta de um barco de pesca desenhava-se na areia, e ainda mais ao fundo era possível distinguir a figura de uma casa simplória. Como sempre, Dareon farejou o problema antes de visualizá-lo, e mais uma vez o cheiro de morte dos Renegados invadiu suas narinas, deixando-o com os pelos da nuca em pé.

Por puro hábito – ou talvez porque não podia controlar aquele instinto animal que por um momento enevoava todos os seus pensamentos –, rosnou violentamente, mas ninguém podia ouvi-lo daquela distância. De onde estava, já conseguia enxergar o confronto que era travado na praia, um pequeno grupo de homens lutando contra o ataque surpresa dos mortos-vivos.

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Os homes, visivelmente pescadores da região, pareciam estar em sérios apuros para defender a si mesmos e a propriedade. Dareon apoiou-se nas quatro patas e correu até o combate feito um lobo selvagem, pronto para atacar.

– WORGEN! – alguém gritou.

Dareon não lhe deu atenção. Pulou direto na frente de um dos pescadores e empurrou-o para trás, então urrou para o Renegado com quem ele lutava e o atirou para longe com uma patada. Virou-se imediatamente para um morto-vivo às suas costas e cravou as garras em seu pescoço.

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– Você veio aqui para nos ajudar? – perguntou um homem.

Dareon procurou-o com o olhar e o encontrou dentro do barco, consertando algo com uma marreta enquanto três outros pescadores impediam que fosse atacado.

– Vim – assentiu com a cabeça. – Gwen Armstead me mandou.

– Sou Sebastian Hayward – disse o homem, sem parar de martelar o barco.

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Dareon olhou em volta uma vez antes de fazer a pergunta que o estava deixando intrigado.

– Por que motivo os Renegados atacariam uma colônia de pesca, senhor Sebastian Hayward?

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O pescador suspirou e passou as costas da mão na testa para impedir que o suor lhe caísse nos olhos. Ainda parecia um tanto desconfiado quando começou a explicar:

– Os navios renegados naufragaram muito perto da colônia. Os sobreviventes estão vindo para cá, e, como você pode ver, estamos em menor número. Às vezes vêm sozinhos, noutras chegam em grupo…

– Estamos começando uma evacuação – Dareon cortou-o. – Não sabemos até quando poderemos suportar os terremotos, e a água está cobrindo cada vez mais terra…

– Evacuação, é? – Sebastian voltou a prestar atenção no conserto do barco. – Bem, nós pensamos na mesma coisa, logo que os Renegados começaram a aparecer. Estamos achando que talvez a forma mais segura de sair daqui seja por mar, mas nossos barcos foram danificados pelo último terremoto. Agora estou tentando arrumar tudo, mas está difícil, com toda essa gente morta atrapalhando…

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Dareon olhou para os lados e viu que ainda haviam mais barcos necessitando de reparos. Se continuassem daquele jeito, não conseguiriam sair dali tão cedo.

– Não entendo muito de consertos, Sebastian – Dareon confessou. – Se entendesse, poderia ajudá-lo…

– Você poderia me ajudar de outra forma, grandão – Sebastian apontou com a marreta na direção dos irmãos, que ainda lutavam com os Renegados. – Olhe para eles… Estão armados com lanças de pesca e pás. É só questão de tempo até que… Bem, você sabe.

Dareon assentiu.

– Você poderia fazer o favor de mandar esses mortos desocupados para bem longe daqui, e então meus irmãos podem me ajudar na reparação dos barcos. Estou precisando de material e de mão de obra, e…

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Dareon não esperou que Sebastian terminasse de falar. Correu imediatamente até os Renegados, impedindo que um ataque fosse desferido sobre um jovem caído, e incorporou sua fera interior, tomando para si todos os mortos-vivos que enfrentavam os pobres pescadores da Colônia Hayward.

– Sebastian precisa de ajuda – berrou. – Mão de obra e material. Vão.

Os irmãos Hayward demoraram alguns instantes até finalmente reagirem à ordem, e então Dareon continuou a lutar contra os Renegados por conta própria, em pé sobre as inúmeras pilhas de corpos inimigos já derrubados pelos pescadores, enquanto vigiava-os para que não fossem pegos de surpresa por nenhum ataque.

Quando se via livre dos mortos-vivos, Dareon corria para ajudar os irmãos no que precisassem, fosse carregar madeira ou segurar o pedaço do mastro que não parava em pé. Ao final de uma hora, Sebastian já havia terminado de reparar os barcos e os irmãos se preparavam para partir.

– Sinto muito que vocês precisem deixar a Colônia – disse Dareon, enquanto observava Sebastian carregar sua trouxa de roupas para dentro do barco.

– Oh, é triste, com certeza – respondeu o pescador. – Mas não há mais o que pescar por aqui. A partir de agora, tudo o que teremos será tristeza e essa maré vermelha. São tempos difíceis, esses… Perdemos um bom tempo remendando buraco, mas tudo o que nos resta é sair daqui. Dê lembranças à Prefeita Armstead por nós. Como é mesmo seu nome?

– Dareon. Mas ultimamente só me chamam de “WORGEN!”.

Sebastian riu ruidosamente.

– Desculpe pelos maus modos – disse. – Mas, você sabe… Não temos como adivinhar se quem vem por aí é amigo ou inimigo. De qualquer forma, obrigado. Já vamos indo, eu acho… Não quero segurá-lo aqui por muito tempo. Boa sorte, amigo, seja lá para onde o destino o levar…