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Este é o 12º artigo de 46 posts da série Entre Homens e Lobos.

Boa leitura!


Dareon desviou do corpo inerte do Capitão e correu para o cais do navio, que continuava vazio, assim como antes. Foi fácil saltar na água e nadar alguns metros até alcançar o solo em um ponto sem vigilância, e então finalmente deixar para trás os sons insuportáveis da batalha contra os Renegados.

Correu o mais rápido que pôde até os fundos da pequena casa dos Allen e pulou para dentro do porão.

– Ei, olha quem voltou! – gritou um dos vigias quando Dareon desceu as escadas em dois saltos e fez um barulho estrondoso ao pousar no chão.

Dareon abriu seu sorriso canino e recebeu de bom grado o abraço de Melinda Hammond, a pobre mãe que havia sido separada de seus três filhos, que correra ao seu encontro assim que o vira.

– V-você foi incrível – disse ela. – Meus filhos estão bem! O que você fez foi maravilhoso, Dareon. E-eu nem sei como lhe agradecer…

Permaneceu imóvel durante alguns instantes, com medo de machucá-la. Melinda largou-o, fungando, e Dareon seguiu-a até onde estava Lorde Godfrey, que estampava no rosto a mesma expressão de zombaria de sempre.

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– O-ho, veja só você – disse Godfrey, olhando-o de cima a baixo. – Voltou inteiro, foi?

Dareon rosnou brevemente. Lorde Godfrey fechou o sorriso e ajeitou a cartola no topo da cabeça.

– Não me leve a mal, Dareon – pediu. – Você anda fazendo realmente um ótimo trabalho por aqui. Oh, como é difícil dizer isso para um worgen…

– Godfrey! – Melinda repreendeu-o. Dareon rosnou novamente, dessa vez mais alto.

– Está certo, está certo – Godfrey ergueu as mãos na altura dos ombros em sinal de rendição. – Mas, de fato, Dareon… Nada mal. Que bom que está do nosso lado.

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Dareon alarmou-se quando Godfrey encostou levemente a mão em seu ombro.

– Você pode até ser uma fera sanguinária, mas é a nossa fera – concluiu em tom brando, e ao final até ofereceu-lhe um sorriso sincero.

– Então, você realmente se lançou para dentro dos navios dos Renegados? – quis saber um dos vigias.

Dareon riu brevemente e virou-se na direção do rapaz. Por um momento, todos prenderam a respiração abruptamente, e Dareon só notou o que tinha acontecido quando notou Melinda, que precisara se atirar contra a parede para evitar ser atingida pelo machado que carregava na cintura.

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– Oh – Dareon se afastou alguns passos. – Me desculpe… Eu não…

Eu não o quê?, pensou, empurrando a arma para trás. Eu não consigo me controlar? Eu não tenho noção do meu tamanho? Preferiu não concluir a frase e limitou-se a desprender o machado do cinto.

– Dareon, quer trocar de arma? – perguntou o mesmo vigia que quisera saber como fora sua missão no navio. – Nós temos algumas sobrando por aqui… Não que eu ache que você precise de uma arma para lutar, não é, porque olha só esse tamanhão, mas…

– Já entendemos, querido, pode parar de falar – Melinda cortou-o, e em seguida virou-se para Dareon. – Talvez seja uma boa ideia.

– De fato, não deve ser nada confortável para você usar um machado… – Godfrey correu até uma salinha escondida nos fundos do porão e voltou alguns segundos depois com uma adaga brilhante nas mãos. – Veja se gosta dessa.

Dareon segurou-a pelo cabo e prendeu-a à cintura. Adaptou-se à mudança de peso imediatamente, sentindo-se mais livre do que antes.

– Ótimo para todos – Godfrey deu uma risadinha. – Dê aqui esse machado, vamos limpá-lo e guardá-lo lá dentro. Enfim, voltando ao que interessa, agora que você não corre o risco de acidentalmente matar mais ninguém nessa sala… Se bem que…

Godfrey, por favor – disse Melinda mais uma vez.

– Claro, desculpe – Lorde Godfrey pigarreou. – Como eu ia dizendo, você tem feito um excelente trabalho, Dareon. Nossos batedores identificaram a líder do ataque terrestre dos Renegados. É uma patrulheira de confiança de Sylvana, que anda supervisionando o front de batalha a partir da casa dos Walden, perto da costa. Se chama Thyala.

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Godfrey tateou o colete até que pousou a mão sobre o que procurava. Retirou de um dos bolsos um pequeno objeto prateado e o estendeu na direção de Dareon.

– O que…

– Um apito – Godfrey tratou de explicar logo. – É um apito. Para você usar perto da patrulheira. Não é uma boa ideia atacá-la sozinho.

Dareon encarou o apito mais uma vez, então olhou para Godfrey e chacoalhou a cabeça.

– E como é que um apito vai…

– É um apito para cachorros, Dareon – Lorde Godfrey revirou os olhos. – Você apita quando estiver perto e os mastins correm na direção dela. Será que eu preciso explicar tudo?

Dareon guardou o apito para mastins e mais uma vez se expôs à chuva incessante que caia sobre os arredores de Guilnéas. Caminhou pelos cantos, alheio à batalha que ainda se desenvolvia perto dos navios, apenas torcendo para que nenhum canhão atirasse uma bomba para aquele lado.

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Avistou a Patrulheira Sombria Thyala de longe, montada em seu cavalo descarnado e rodeada de vigias Renegados. Atrás dela, a porta da pequena casa dos Walden permanecia aberta, vazando uma réstia de luz dourada no sombrio entardecer daquele dia.

Saltou sobre a pequena parede de pedras e, agachado, continuou aproximando-se cautelosamente. A líder do bando continuava em seu cavalo, examinando alguns pergaminhos rabiscados que tirava da bolsa, deixando a vigilância por conta dos soldados.

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Dareon revirou o apito na palma da mão algumas vezes antes levá-lo à boca. Precisou de três tentativas para poder soprá-lo sem mastigar a ponta, e quando finalmente conseguiu fazê-lo, ouviu um som tão agudo e irritante que precisou parar imediatamente e encolher-se por um momento, com as orelhas protegidas sob as enormes patas.

Ouviu o som dos passos dos mastins antes de enxergá-los, correndo desenfreadamente na direção de Thyala. Ela também pareceu sentir que algo estranho acontecia, pois, apesar de não ter ouvido o alerta do apito, havia arrumado a postura e seu olhar estava preso na estrada. A última coisa que Dareon viu antes de atacar o primeiro soldado e ser engolido pela loucura da luta foi a espada flamejante da Patrulheira Sombria sendo desembainhada, no exato momento em que os mastins alcançaram as patas de sua montaria.

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Assim que foi atacado, Dareon atirou os três soldados restantes para longe. O cavalo de Thyala estava caído ao chão, relinchando, enquanto a Patrulheira se arrastava para recuperar a arma caída, tentando livrar-se de um dos mastins, que não desistira de puxá-la para trás pelo calcanhar.

Dareon chutou a espada para o outro lado e atirou-se sobre a morta-viva, ao passo que mais dois mastins atacaram-na quando estava imobilizada, chacoalhando-se inutilmente na tentativa de se livrar do peso exercido sobre si. Dareon esforçou-se para tirar a adaga da cintura e viu a Patrulheira erguer-se com dificuldade, puxando as pernas do ataque dos mastins.

Com um único golpe, Dareon atirou-a no chão com força e prendeu-a pelo pescoço. Permaneceu imóvel durante alguns instantes, encarando-a, e percebeu que rosnava como um animal, enquanto suas garras se fincavam na garganta cinzenta da morta-viva. Sem hesitar mais, cravou a lâmina da adaga nas costelas de Thyala e depois ergueu-se, apoiando o pesado joelho no tórax da agora frágil Patrulheira Sombria.

Guardou a adaga no cinto e rosnou uma última vez em sua direção, deixando-a caída no solo, rodeada de mastins. Deu-lhe as costas enquanto prendia a adaga novamente ao cinto, e pensou ter ouvido um último grito, mas não virou-se para olhá-la. Alguns passos depois, tudo o que escutava eram latidos e o tranquilizante som da chuva.